Este artigo foi publicado originalmente na Common Edge.
Movimentos sindicais têm sido uma tendência entre os jovens com formação universitária nos EUA, segundo o New York Times. Eles buscam solidariedade e fortalecimento através da coletividade para alcançar mudanças desejadas em contrapartida à resistência que eles têm encontrado. Enquanto a Amazon e a Starbucks ganham as manchetes dos jornais quando o assunto é sindicalização, arquitetos mais jovens também estão se organizando. Isso é incentivado pelo The Architecture Lobby, um grupo que se inclina para o campo do socialismo democrático. O escritório SHoP, com sede em Manhattan, foi alvo recente de um grupo de funcionários que não obtiveram sucesso na sua proposta de sindicalização.
A resposta dos donos da SHoP foi de surpresa: Não estamos nisso juntos? Os escritórios tanto da costa leste quanto oeste creem que são progressistas e que refletem a preferência política de suas cidades. No entanto, há uma linha divisória no que significa “progressista”: os ideais socialistas predominam; enquanto as pessoas da geração X e mais velhos ainda recorrem ao mercado para resolver problemas sociais.
Resumindo, é necessário existir um sentimento de descontentamento comum entre esses grupos para que haja engajamento da maioria dos profissisonais. Os funcionários do armazém da Amazon tiveram algum sucesso porque o mote da empresa é uma mistura da busca pela eficiência taylorista potencializada por IA com o culto ao sacrifício pela Big Tech. Os escritórios de arquitetura podem ser exploradores e tóxicos, mas as pessoas podem fazer uma pausa para o xixi sem grandes problemas.
“Arquitetos amam o que fazem, então estão prontos para a exploração”, David Baker me disse uma vez. Mas a era do amor livre acabou. Estudar para ser arquiteto está cada vez mais caro, mesmo nas universidades públicas, e os jovens arquitetos entram no mercado de trabalho carregados de dívidas. E suas expectativas são de um retorno mais rápido do que tem sido o caso da profissão. Em suma, há lacunas entre o que os arquitetos querem e o que está disponível. E isso pode parecer opressivo.
O apelo do socialismo democrático a esse grupo reflete sua percepção de que nem todos os problemas que eles enfrentam podem ser resolvidos mesmo pelos maiores e mais progressistas escritórios de arquitetura sem um esforço mais amplo para fortalecer a esfera pública. Bens públicos como educação, saúde, habitação e creche estão carentes de fundos. O alto custo de vida contribui para o sentimento de opressão dos jovens arquitetos, mas o que eles demandam quando se organizam é uma mudança de regime.
A premissa do socialismo democrático é que o capitalismo é compatível com uma esfera pública adequadamente financiada, e que - na ausência de tal financiamento - a esfera pública se desgastará e a prosperidade da sociedade será colocada em risco. Uma coisa interessante sobre a pandemia é que o Estado recebeu uma dose enorme, embora de maneira aleatória, de financiamento. Isso demonstra de maneira implícita que, sem essa parceria, nossa situação poderia ter sido pior. O movimento inicial de Biden foi manter essa postura de aceitar a premissa socialdemocrata.
Não estamos todos juntos nisso?
O caso do SHoP mostra o que somos e o que não somos. O ponto crítico está em localizar onde somos diferentes. A diferença é substantiva. o SHoP parece progressista, mas está ligado a uma economia capitalista tardia cujos oligarcas veem o domínio público como filantropia. O arquiteto e economista Kevin Batcho observa que os EUA eram um paraíso da classe média durante a década de 1960 porque estávamos competindo com a URSS pela fidelidade do Terceiro Mundo. Quando a União Soviética caiu, as luvas neoliberais caíram. O bem-estar social encolheu rapidamente à medida que a crença de que os mercados poderiam mantê-lo ganhou força.
Então aqui estamos nós. Os bens públicos foram privatizados e, em vez da riqueza da classe média, temos uma diferença social crescente entre o topo e todos os outros. Apesar de suas pretensões cavalheirescas, os arquitetos fazem parte da classe profissional, à qual minha família pertence desde o século XIX. Os sindicatos raramente se formaram; em vez disso, temos o AIA.
Esse órgão respeitável, a meu ver, se assemelha muito à Câmara dos Deputados dos EUA, atraindo velhos brancos cujas perspectivas refletem as prioridades e a visão de mundo desse grupo. Esta é a organização cujo então diretor executivo deu as boas-vindas ao presidente eleito Trump com um comunicado de imprensa insensível, e cujos diretores recusaram uma petição da Architects Designers Planners for Social Responsiblity para declarar antiético o projeto de câmaras de execução e solitárias em prisões dos EUA.
Minha filial local é uma exceção admirável, mas o AIA ficou para trás em âmbito nacional. Contudo, há um novo diretor executivo, então as coisas podem mudar. A principal função do AIA nacional tem sido distribuir honras e méritos como se estivéssemos em uma monarquia. Se reformulada, pode ser uma opção melhor do que um sindicato.
Um tipo diferente de sindicato
“Mas que m*!” Eu ouço um amigo do Brooklyn exclamar. Mas deixe-me citar Peggy Deamer, fundadora do Architecture Lobby e autora de vários livros sobre arquitetos como trabalhadores. Quando ela diz “sindicato”, seu principal exemplo é o Architects Sweden. Sim, é um sindicato — mas é mais parecido com o AIA do que com um sindicato.
O que é semelhante é que os membros da Architects Sweden incluem esscritórios e profissionais, e ela se vê como defensora de ambos. Uma diferença é que a Suécia é uma democracia social-progressista com um Estado robusto, buscando conscientemente igualdade para as mulheres. Outra é que arquitetos e profissionais relacionados são certificados pela Architects Sweden. Qualquer pessoa pode chamar-se de arquiteto e exercer a profissão livremente, o governo não se importa. Apesar disso, a maioria dos arquitetos, designers de interiores, arquitetos paisagistas e planejadores ingressam na Architects Sweden enquanto estudantes. Com um diploma universitário ou equivalente e dois anos de trabalho para escritórios relevantes na UE, eles são certificados pelo sindicato em seu campo escolhido.
O que mantém os escritórios e os profissionais de design suecos em seu sindicato é o apoio que oferece a ambos. Architects Sweden ajuda escritórios e profissionais a decidir conjuntamente sobre as condições de trabalho, controlando a remuneração e, por exemplo, a participação das mulheres em diferentes níveis em suas empresas e como suas carreiras estão progredindo em comparação com os homens. Ele acompanha e compartilha as melhores práticas em gestão de escritórios, inovações em materiais e técnicas, integração de tecnologia, condições de mercado e trabalho dentro e fora da Suécia. A organização pressiona o governo.
Reformulando o AIA
Hoje, o AIA carece do ativismo e do senso de propósito do arquiteto sueco. Para mudar, teria que ampliar seu mandato – não apenas arquitetos licenciados, mas toda a lista de profissionais que planejam e projetam o ambiente construído. Seria necessário olhar além dos limites e barreiras profissionais para ver como eles estão interconectados, na realidade, mas ainda respeitar suas culturas e conhecimentos profissionais. Se os arquitetos de banco de dados são uma profissão reconhecida, o AIA não deveria ter vergonha de ampliar o termo “arquiteto” e apoiar seus campos irmãos como membros.
Evelyn M. Lee, uma arquiteta bem qualificada da Bay Area, está concorrendo à presidência do AIA em uma plataforma de efetivação de mudanças. Mas pode o AIA realmente igualar o ativismo da Architects Sweden e sua capacidade de unir as profissões de design? É uma pergunta aberta. Caso vacile ou se recuse a aceitar o desafio, há duas alternativas: The Architecture Lobby , ativo na organização e visivelmente democrata socialista; e a Organização Nacional de Arquitetos Minoritários (NOMA), da qual Lee também é membro. Uma abrangência maior daria aos escritórios e profissionais de design mais visibilidade e peso à medida que enfrentam seus desafios compartilhados.
Qualquer que seja a organização que se apresente para a ocasião, é improvável que use os sindicatos como modelo. As queixas dos trabalhadores do armazém da Amazon diferem das dos profissionais de design. Horas longas e malremuneradas, bem como a natureza de contratação e demissão de muitos escritórios, tornam o trabalho de arquiteto precário. Isso não é novo, mas muitas vezes reflete a má gestão do escritório, e não suas más intenções. Os escritórios precisam estar no mix, mas a organização precisa ser independente dos maiores escritórios. A prática de subsidiar seus funcionários como membros deve acabar. A associação individual deve ser acessível, e a associação de escritórios deve estar vinculada ao tamanho e à receita. Ambos podem ter seus próprios conclaves, refletindo suas diferentes situações, mas também trabalhar juntos coletivamente.
O que torna o Architects Sweden um modelo atraente é que muitos desses desafios recaem sobre escritórios e profissionais. Escritórios de arquitetura ainda são prejudicados por um acordo antitruste que o AIA fez décadas atrás – imposto a elas pela SEC a pedido dos maiores clientes federais da profissão. Até então, a tabela de taxas do AIA ditava as taxas mínimas (com base em uma porcentagem do custo de construção) que os escritórios-membros poderiam cobrar dos clientes. Deu-lhes um “piso”, da mesma forma que o salário mínimo dá aos trabalhadores – proteção, ainda que mínima, contra exploração e má gestão. A proibição de tabelas de honorários deve ser revista, não apenas para os arquitetos, mas para todas as profissões envolvidas no planejamento e projeto de nossas cidades.
Mas a principal tarefa é levantar todas as bolas – pressionar por igualdade para mulheres e minorias e por uma esfera pública acessível financeiramente e aberta ao diálogo. Os problemas que enfrentamos como profissionais de design muitas vezes refletem deficiências sociais. Então, sim: estamos todos juntos nisso. Mas precisamos de um sindicato que consiga isso.